Capitulo 1- 13 de Maio
Arredores de Nova Osíris.
A lua brilhava intensamente no céu. Seu esplendor usurpava as trevas da noite, mas, naquela noite, parecia que a luz do sol refletida nela era ainda mais forte e bela.
Sob o luar, um belo jardim repousava em meio a uma mansão antiga. Árvores enormes, de beleza imponente, deixavam suas folhas caírem suavemente sobre o gramado — que, mesmo sem ser aparado há décadas, ainda parecia descomunalmente belo.
Flores de cores impossíveis brotavam entre pedras cobertas por musgo ancestral. Elas exalavam uma sensação de pureza e reverência, contrastando com o lago — profanamente belo — que repousava no centro do jardim.
O jardim era lindo, silencioso e cheio de vida… mas logo seria eternamente maculado.
O brilho da lua, refletido no lago, escureceu. As folhas das árvores pararam de cair, como se lutassem contra o mal que estava por vir. As flores, antes sagradas, agora exalavam terror e medo.
Um homem alto, coberto por um manto escuro com capuz, caminhava em silêncio. Sobre os ombros, carregava uma bela mulher.
Ela estava suja e ferida, com os pulsos e tornozelos amarrados, e a boca tapada por uma fita. Mesmo assim, era deslumbrante — cabelos loiros encaracolados caíam logo abaixo dos ombros, e seu corpo, adornado por um vestido verde com detalhes brancos, exibia curvas suaves e hipnotizantes.
O encapuzado — cuja mera presença trazia nojo e horror — a jogou sobre um leito de flores. Em seguida, retirou de seus bolsos uma espécie de diário. Leu algumas linhas com atenção, revisando cada passo do ritual para não cometer erros.
Pegou cinco velas brancas e uma faca. Limpou uma área do jardim com as mãos, afastando flores e galhos. Colocou as velas no chão, cada uma em sua devida posição.
Sem hesitar, cortou um de seus próprios pulsos.
Com o sangue escorrendo, molhou os dedos e começou a escrever símbolos ao lado de cada vela — caracteres profanos, distorcidos, indecifráveis.
Quando terminou, pegou a mulher e a colocou no centro do círculo formado pelas cinco velas, acordando-a.
Ela despertou em completo horror e desespero. Debatia-se tentando se soltar, tentou gritar, mas nenhum som saiu — mesmo após o homem retirar a fita de sua boca.
Sua língua havia sido arrancada.
Ela chorava. As lágrimas escorriam por seu rosto, e sua expressão era puro pavor. Seus belos olhos azuis se moviam freneticamente, buscando uma saída, uma ajuda, qualquer salvação.
Mas nada... nem ninguém poderia salvá-la.
Então, o encapuzado recitou o que escrevera com seu próprio sangue — como se fosse o ato mais profano que já tocara o solo da Terra:
— Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'Iyeh wgah'nagl fhtagn...
Enquanto recitava, a mulher cessou os movimentos, como se uma força invisível tivesse dominado seu corpo. O homem cortou as cordas que prendiam seus pulsos e tornozelos, e a ajoelhou no centro do círculo.
O rosto dela, ainda mais apavorado, parecia ter sido congelado naquela expressão. Um horror eterno.
— ...Th’nog ur'khal zha’rahn et-vogath na’ez shagg zoth’mar dath’nur.
O homem finalmente terminou de recitar o ritual. Então, pegou a faca e cortou a garganta e os pulsos da mulher.
Suas lágrimas escorreram ainda mais intensamente.
E, de forma estranha, seu sangue pareceu se coagular ao tocar o chão, espalhando-se como se guiado por uma vontade profana. Formou um pentagrama, com as velas nas pontas e a mulher no centro.
Ela já estava pálida pela perda de sangue. Havia desistido de lutar pela vida. Então, olhou diretamente para o rosto de seu executor.
Ele era um jovem de cabelos negros e olhos castanhos. Teria sido alguém comum, até bonito — se não fosse pelo sorriso horripilante, de canto a canto, que distorcia seu rosto em algo inumano.
Em silêncio, ele caminhou para trás dela e, com um martelo, esmagou sua cabeça.
Um ato de misericórdia.
O cheiro do ritual impregnou o jardim... e atraiu os demônios.
Horas antes, centro de Nova Osíris.
O eterno sol ardente surgia no horizonte, expurgando toda a escuridão da noite. Nova Osíris era uma cidade comum do Novo Egito. Havia muitas lojas, escolas, hospitais, parques, casas e prédios — e, em um desses prédios, resistências.
Um jovem de pele morena, olhos verdes, cabelo crespo curto e porte um pouco atlético despertava de um sono profundo.
Levantou-se, observando o próprio quarto: um simples armário, uma cama de casal e uma escrivaninha com um laptop. Em seguida, saiu e foi até o banheiro, onde tomou seu banho matinal.
Ao terminar, voltou para o quarto, abriu o armário e pegou uma calça jeans preta e uma blusa branca simples.
Vestido, saiu do quarto. Logo à frente, havia uma porta na qual ele bateu enquanto bocejava.
Toc, toc, toc.
— Já acordou, Omar?
Sua voz relaxada e sonolenta ecoou pela casa.
— Sim. Pode ir fazendo o café, Laab.
Meia hora depois, Laab e Omar caminhavam pelas ruas de Nova Osíris. Omar era um jovem quase da mesma idade de Laab, um pouco mais baixo, com um corpo levemente forte, pele bem escura e cabelos crespos e longos. Ele usava uma calça cargo verde-escuro e uma blusa preta justa, que evidenciava seus músculos discretos, mas bem definidos.
— Irmão, olha isso!
Omar estava com uma expressão intrigada enquanto mostrava a tela de seu celular para Laab.
O celular de Omar exibia a manchete do jornal do Novo Vaticano:
“O Potestade mais novo do mundo! Kwon Valtross finalmente descobriu seu nome divino, agora sendo chamado de O Santo das Lâminas, tornando-se um Potestade aos 16 anos de idade! O Santo das Lâminas foi consagrado arcebispo na manhã de 8 de maio de 103 p.C.”
Ele não é novo demais?
— pensou laab— Ele não era um Amesh há uns seis meses?
Perguntou Laab enquanto atravessava a rua.
— Bem, ele é um gênio. Eu não acharia impressionante se ele se tornasse o primeiro Santo Anjo.
Depois de virarem a esquina, passarem por um terreno baldio e um parque, Laab e Omar entraram numa cafeteria charmosa e aconchegante.
Ela ainda estava abrindo, com apenas uma das portas de enrolar erguida. Antes de entrar, Laab puxou a outra para cima.
— Vocês demoraram. Omar, me ajude aqui na cozinha. E Laab, arrume as mesas.
A voz firme, mas com um toque de gentileza, veio de uma jovem baixa, de cabelos encaracolados, pele morena marcada por vitiligo e olhos azuis ferozes. Ela vestia uma calça wide leg cinza-escura e uma blusa branca que chegava até o umbigo. Um piercing brilhava em seu umbigo, e belas argolas pendiam de suas orelhas. Por cima, usava um avental simples da cafeteria, ligeiramente manchado de café e farinha.
Os dois responderam em uníssono, com sarcasmo:
— Sim, senhora Cibele!
Enquanto Laab arrumava as mesas, sentia o aroma suave de café se espalhando pelo ambiente — um cheiro familiar e acolhedor. Mas, junto dele, havia algo diferente. Um cheiro sutil, estranho, que parecia se intensificar a cada minuto. Uma sensação incômoda acompanhava o odor, mas Laab optou por ignorá-la.
Omar e Cibele.
Laab se lembrava vividamente de como conhecera os dois, há mais de 14 anos. Ele e Omar eram órfãos. Laab tinha apenas seis anos quando conheceu Omar, que tinha cinco.
Foi na escola, ainda nos primeiros dias, que encontraram Cibele. Ela tinha apenas quatro anos na época. Desde então, os três se tornaram inseparáveis. Brincavam, brigavam, riam, choravam, dormiam e comiam juntos — como uma família.
Laab amava Cibele e Omar como se fossem seus irmãos mais novos.
Os pais de Cibele eram donos daquela cafeteria, e quando Laab completou 16 anos, chamaram os três para trabalharem ali. Também ajudaram Laab e Omar a conseguirem uma casa quando os dois completaram 18.
A vida de Laab era simples, mas boa. Uma tranquilidade rara em tempos sombrios.
Mas aquele cheiro...
Aquele cheiro não era comum.
Ele parecia insistir, envolver, alertar.
E mesmo assim, Laab continuou a ignorá-lo.
Por enquanto.
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